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A independência

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Feriado de segunda-feira em Santa Maria, Dia da Independência. Frio, tempo fechado, garoa fina. O contrário de quase todo o país, onde faz sol, calor, congestionamentos e praia lotada.

Alguém até pode imaginar que Deus faz pouco caso dos gaúchos: as frentes frias e tempestades sempre começam no RS e, depois que perdem a força, se espalham pelo resto do país. O resto do país, imagino, deve nos odiar por isso. Todo 7 de setembro, o tradicional desfile do dia da Pátria é ameaçado pela chuva. Menos este ano, que foi cancelado por causa da pandemia.

Sem pauta determinada, deixo o pensamento flanar ao mesmo tempo que folheio o livro do Laurentino Gomes (1822). Como era o Brasil na época da independência? Qual o perfil do nosso Imperador? Que circunstâncias levaram ao grito do Ipiranga? O país conseguiu a independência, de fato? Será que o país avançou até chegar aos dias de hoje?

Em 1822, de cada três brasileiros, dois eram escravos. O analfabetismo era geral, de cada 10 pessoas, só uma sabia ler e escrever. A economia era agrária, as pessoas viviam de práticas rudimentares do cultivo da terra, e era dominada pelo latifúndio e tráfico de escravos. Aliás, diga-se de passagem, a Independência não libertou os escravos. Ainda demoraria exatos 66 anos para que a princesa Isabel (neta de Pedro I) libertasse os cativos. Os ricos eram poucos e, na sua esmagadora maioria, ignorantes.

Dom Pedro I fez a Independência do Brasil com apenas 23 anos, idade em que a maioria dos jovens pouco sabe da vida adulta. Seus biógrafos dão conta de que ele era alto, moreno, cabelo encaracolado e com largas costeletas (tipo o ator Tarciso Meira, que o interpretou no filme). Sofria de ataques de epilepsia, doença que faz a pessoa perder os sentidos e a se debater em convulsões. O seu perfil traçado na minissérie Os Quintos dos Infernos, da Rede Globo, parece um tanto exagerado. Mas, embora não bebesse, teve uma vida povoada de aventuras amorosas, sendo a Marquesa de Santos a sua amante mais duradoura. Gostava de jogo, mas era um mau perdedor.

A trajetória de Pedro I, ora é retratada como épica, como no quadro do "Grito da Independência" (cópia de um quadro francês sobre Napoleão), ora como galhofa (como na descrição de que o emissário das cortes de Lisboa teve que esperar, às margens do riacho Ipiranga, porque Dom Pedro I estava com um problema intestinal. O fato é que, muito além dos estereótipos, Pedro I herdou um país quebrado, pois seu pai (Dom João VI) havia limpado os cofres nacionais antes de retornar com a família real para assumir o trono em Portugal. Dez anos após a Independência, seria a vez do próprio Imperador retornar a Portugal para disputar o trono português com o irmão Miguel.

Que Brasil Dom Pedro I deixou para trás? Certamente, um país diferente daquele que havia chegado ao Brasil quando criança, em 1808. Ao se transferir para o Brasil, a família real, na verdade, trouxe o reino para cá. As transformações ocorridas nos 13 anos que aqui permaneceu inviabilizaram o status de colônia e criaram condições para a independência. Para Portugal, dos males o menor: antes que os nativos se rebelassem, melhor que a Independência fosse feita por um português.

Quando assumiu o trono do Brasil, após adquirir a maioridade, Dom Pedro II governaria o Brasil por mais de meio século. Seu principal mérito foi impedir que o Brasil se fragmentasse, como ocorreu com vários impérios. Porém, a independência política não correspondeu à independência econômica. E os problemas sociais ainda estão longe de serem resolvidos.

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